quarta-feira, 3 de abril de 2013

Exílio: Testemunho de quem é obrigado a sair do país

"Quem me indica a fronteira é o próprio primeiro-ministro"
"Falta pouco mais de uma semana, mas sinto-me como se já estivesse sentado no avião, com o cinto apertado e preparado para levantar voo. Genebra é agora o destino, visto que a primeira tentativa, em Londres, revelou-se mais difícil do que o pensado. É por isso o primeiro Mayday em que me tento envolver activamente e o primeiro Mayday que não viverei em Lisboa, se tudo correr pelo melhor.

Tenho apenas uma semana e dois primos que me vão ajudar a encontrar trabalho em Genebra. Qualquer tipo de trabalho, visto que aqui em Portugal estou desempregado depois de ano e meio a trabalhar nos CTT e depois de três anos a estudar História.

Não me posso queixar de não ter sido avisado, porque desde pequeno me fizeram a cabeça em água sobre a minha escolha de estudar História. Fiz o que quis fazer. E as consequências foram as que já há muito me tinham precavido.

A solução? A solução não está em acabar com o estudo da História. É algo completamente impensável.

O problema aqui é que, sem ser trabalhar em investigação vivendo só de bolsas ou em raros biscates a recibos verdes num qualquer arquivo necessitado, os Historiadores não têm mais escolha. 

Um terço dos meus colegas não está a trabalhar sequer. Outro terço ou continua os estudos num mestrado e vive de bolsas  ou trabalha em biscates a recibos verdes que vão aparecendo. E outro terço procurou e conseguiu trabalho noutras áreas, por exemplo enquanto hospedeiras em companhias aéreas.

A solução não está tanto no fim do estudo da História como na austeridade ou como no suicídio. Não é por deixarmos de existir que resolvemos os nossos problemas. 

A solução passa exactamente pelo contrário, assim como funciona a mecânica de um carro. Se estamos numa recta em terceira e não aceleramos temos de meter a segunda, mas isso leva a que daqui a nada, se não acelerarmos, fiquemos parados na estrada não chegando ao nosso destino. Por isso não podemos deixar de acelerar. Como não vamos deixar de viver, como não podemos viver sem crescimento económico e como não podemos deixar de preservar e cultivar o estudo do nosso passado nas mais diversas formas possíveis.

Dito isto, sinceramente, não acho que seja solução emigrar. É a solução individual. É egoísta, não pensa na nossa comunidade e não tenta resolver os nossos problemas. Mas neste momento da vida, mais do que tudo acredito que não estou neste mundo para sofrer. E quero viver uma vida digna. Se não for aqui então que seja noutra comunidade que me aceite. 

Afinal de contas não me chamo André, não tenho dezanove anos, não vou passar a pé a fronteira para Espanha de forma sigilosa com a ajuda de um contrabandista. Vou de avião. Quem me indica a fronteira é o próprio primeiro-ministro da comunidade em que nasci."

Diogo Malta

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